27.3.11

dear grand-dad.


« querido avô,
sempre te quis escrever uma carta, mas nunca tive coragem de o fazer. sempre quis dizer-te certas coisas, que nunca fui capaz de dizer. e sei que hoje, é tarde demais para tudo isto... infelizmente, tu não estás cá para leres tudo isto.
nunca te escrevi, pois quando partiste eu era muito nova para dar valor a estas coisas. há quatro anos que me deixaste, e desde então que sinto o teu vazio no meu quotidiano. no passado, eu não te valorizava. raramente te ia visitar, pouca atenção te dava, e quando voltava para casa, não pensava muito no que me dizias. mas, também... eu tinha apenas doze anos, e era mimada, só pensava em mim.
eu errei tanto contigo. mas eu amava-te, e por vezes queria dizer-to, mas achava que não era correcto. eras um avô dos "antigos", não ligavas a essas formas de expressar os sentimentos, mas avozinho, eu sabia que nutrias por mim o mesmo amor que eu sentia por ti.
sei que era a tua pequenina predilecta; tu colavas na tua parede todas as minhas fotografias, todos os jornais em que eu saía, e dizias com orgulho: ela é a minha netinha!
não imaginas, as saudades que tenho, de quando me pedias para sentar ao pé de ti, e dizer a tabuada do sete, do oito, do nove (...)
a última vez que eu te vi, foi no meu almoço da comunhão solene. lembro-me como se fosse hoje, e guardo todas as lembranças que tenho de ti, no meu coração. 
sabes, às vezes sinto-me devastada ao tentar lembrar-me da tua voz... mas esforço-me e tento sempre. és das melhores memórias que eu podia ter, avô!
tenho saudades de chamar por ti, e de brincar contigo.
eu cresci. e tal como querias, sou feliz. mas preciso de ti... ainda não tenho coragem de te "visitar" normalmente. não consigo. é algo que me ultrapassa! pensar que estou ali, a visitar alguém cujo espírito não lá está! 
sim, porque tu não permaneceste lá. eu espero que andes a vaguear por belos lugares, mas que tenhas deixado o teu coração cá ficar, comigo. mas espero que estejas bem.
porque eu acredito que possa existir vida para além da morte. não acredito que a vida tenha um ponto final, nem nos contos de encantar, em que as pessoas se tornam em anjos com asinhas.
espero que estejas num lugar merecedor de ti.
foste o melhor homem que eu conheci avô, mesmo com todos os teus defeitos! a tua teimosia e o teu orgulho, (que eu herdei) e até mesmo o teu olhar frio, faziam de ti um bom homem.
possuías uma inteligência extraordinária, eras a pessoa mais sábia que eu conhecia. e continuas a sê-lo. 
não me conformo com o facto de teres ido embora tão novo. tu não merecias.
já não vejo a avó há muito tempo, nem desejo vê-la, mas confesso que quando vejo alguém parecido com ela, me dá um arrepio na espinha, e tenho vontade de chorar. e isso aconteceu-me hoje.
mas, não vou pensar nisso. ela é completamente o oposto de ti, e és o meu maior orgulho avozinho.
espero encontrar-te numa outra vida, e puder dar-te novamente a mão. espero mesmo poder voltar a abraçar-te, um dia.
gostava que esta fotografia fosse mesmo nossa, mas não consigo passar a nossa foto para o computador, mas o que importa é o sentimento, e esse tu tem-lo como garantido.
despeço-me assim de ti, querido avô.
amo-te muito,
até já.
da tua neta Marta. »

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